segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sabrinas pretas


Ele é daquele tipo de pessoas que se lembra de tudo. Que aponta tudo. Que guarda tudo.

Ele é daquele tipo de pessoas que, 5 ou 6 anos depois, descreve com uma precisão assustadora aquilo que vestias no dia em que se conheceram.

Ele é daquele tipo de pessoas que reproduz, integralmente, uma conversa que tiveste com ele.

Ele é assim.


Veio o dia em que se sentaram, lado a lado, a conversar. Falaram de tudo e de nada. Ela leu-lhe em voz alta. Ambos tremeram.

"Ela sabe que não se consegue precisar o momento, a hora, o dia em que uma pessoa fica apaixonada. Sempre um pouco antes, sempre um pouco depois. Ela sabe que não se pode revelar definitivamente como, e porquê, uma pessoa ficou apaixonada por esta pessoa, precisamente esta, e não por outra muito parecida com ela. Qualquer razão perde a razão. O que uma pessoa pode sentir é se está ou não apaixonada. Que houve um estreito abismo, sem saber quando nem como, sobre o qual sabe que saltou. Sem poder avaliar as consequências. Como uma doença. Não é só isso. Uma pessoa quando está apaixonada não está continuamente apaixonada, muito menos com a mesma intensidade. Varia muito. Acontece uma pessoa duvidar se está ou não apaixonada. Ficar totalmente baralhada. É mais fácil uma pessoa sentir a paixão por outra pessoa quando ela não está presente. Isso parece-lhe um facto. A sua ausência aumenta o poder da sua presença. A paixão é mais sua, mais inteira, há menos interferências. Com ela é assim. Sente um vazio que só o outro, único no mundo todo, vai poder preencher, sarar, cuidar. Uma espécie de saudade imperiosa. Uma questão de vida ou de morte."

(in Rosa Vermelha em Quarto Escuro, Pedro Paixão)


No dia seguinte, ele não se lembrava do que ela calçara no dia anterior.

E a mão dela, aflita, ainda a sentia na perna.



7 comentários:

Sadeek disse...

Obrigada pela visita!!!

BEIJOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

Anónimo disse...

plim... ;)

Ti disse...

plim pois.... estes anónimos.. :)

Ana disse...

[...]

a propósito:
http://www.youtube.com/watch?v=P2P4iG9l1KQ
(a partir dos 3:20)

já não li Pedro Paixão há uma porrada de anos... obrigada pelo cheirinho:)*

Ti disse...

ana: obrigada pela escolha. Nunca sei se ria se chore qd vejo este filme... é estranho... e dp de ter ido a Paris ainda me revejo mais ali... :)

Mim disse...

Continuo a achar que esta definição é de uma clareza impressionante... Brrrr...

nando disse...

Mesmo quem guarda tudo, só guarda o que é importante.